Seminário promovido pela AEAS atraiu mais de 200 pessoas ao teatro Guarany
Não é preciso ser especialista, seja em meio ambiente ou engenharia, para perceber que a faixa de areia, principalmente na Ponta da Praia, em Santos, vem ficando cada vez mais estreita ao longo dos anos. As ressacas mais frequentes e fortes — só em 2016 foram quatro grandes episódios ocorridos em abril, agosto, setembro e outubro — já destruíram muretas, calçadas, inundaram a avenida da praia, alagaram prédios e danificaram o Deck do Pescador, conhecido ponto turístico da cidade.
Esses cenários preocupantes motivaram a Associação de Engenheiros e Arquitetos de Santos (AEAS), o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea-SP) e a Prefeitura de Santos a promoverem o seminário “Soluções Imediatas e Definitivas em Engenharia para Proteção da Orla de Santos”, ocorrido em 15 de dezembro no teatro Guarany, e que atraiu mais de 200 pessoas, entre especialistas, profissionais, gestores públicos, professores universitários, entre outros.
“Trouxemos vários especialistas, tanto pesquisadores quanto engenheiros mais voltados à prática, para tentar entender quais soluções apresentadas seriam as mais aplicáveis a longo prazo e não de forma paliativa, porque já vimos que o que está sendo feito não está resolvendo. Também será produzido um documento que vai servir como instrumento para que a gente discuta com mais profundidade o assunto”, explicou o presidente da AEAS, Ademar Salgosa.
A programação foi divida em dois blocos. A primeira palestra foi conduzida pelo arquiteto e secretário de Desenvolvimento Urbano da Prefeitura de Santos, Nelson Gonçalves de Lima Júnior, e o vice-coordenador da Comissão Municipal de Adaptação à Mudança do Clima (CMMC) e pesquisador do Projeto Metrópole, Eduardo Kimoto Hosokawa. Eles falaram sobre a CMMC, criada em novembro de 2015 para trazer uma série de medidas de sustentabilidade a serem discutidas e realizadas com a sociedade, e o Projeto Metrópole, pesquisa internacional criada em 2012, que tem como meta avaliar as medidas de adaptação às mudanças climáticas em Santos, Broward (EUA) e Selsey (Reino Unido).
USP possui grande laboratório para estudar erosão santista
O Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Escola Politécnica da USP vem realizando estudos de proteção da orla de Santos por meio de modelagem física e computacional. O primeiro representa fenômenos hidrodinâmicos a partir da resolução numérica de equações em uma grade computacional que possibilita simular diferentes cenários de obras contra a erosão, estudar alternativas, viabilidade técnica, causar menos impactos e encontrar o melhor custo benefício.
Já os estudos de modelagem física, utilizados em casos muito complexos, são feitos em um modelo 3D que reproduz as condições do Estuário de Santos (3.200 m²), por uma Bacia de Ondas 3D (40m de comprimento e 18m de largura) e um Canal de Ondas 2D (50m de comprimento, 1m de largura e 1,4m de profundidade).
O professor doutor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da USP, José Carlos de Melo Bernardino, chamou a atenção para o fato de que apenas repôr areia depois da ressaca não surte efeito: “Na próxima ressaca a areia será removida novamente. O correto é existir algum tipo de obra fixa que complemente essa ação, por exemplo, contruir um quebra-mar para diminuir a energia das ondas e depois alimentar a praia artificialmente com areia. O quebra-mar protege e impede que a ressaca remova a areia reposta”, esclareceu.
Erosão atinge 23% da orla entre Santos e Bertioga
Pesquisa feita pelo Atlas de Erosão e Progradação no Litoral Paulista do Instituto Oceanográfico da USP, apontou que o trecho entre Santos e Bertioga, de todo o litoral de SP, é o que mais sofre com a erosão, que chega a 23% do território. O trecho tem 56% de estabilidade, 1% de instabilidade e 18% de progradação (processo natural de ampliação das praias, provocados pelo mar).
“Deve-se discutir não só o processo de erosão, mas a aceleração recente. Erosão só existe onde existe gente. É uma relação de custo benefício, uma região metropolitana com um centro urbano bem desenvolvido, mas não se pode destruir o ambiente para a cidade crescer, não pode mais existir o conceito de pé na reia, tem que existir uma faixa de não ocupação e uma consciência da população e dos gestores, que devem barrar as construções”, alerta o professor do Intituto Oceanográfico da USP, Michel Michaelovitch de Mahiques.
Previsões de ressacas e estudos de caso
Durante o seminário foi apresentado um sistema de previsão e antecipação de ressacas criado em 2014 pelo Núcleo de Pesquisas Hidrodinâmicas da Unisanta (NPH), coordenado pela professora Alexandre Sampaio.
As informações são fornecidas para a Defesa Civil, como uma forma de prevenir e minizar impactos. As previsões variam de três a sete dias, com acertos acima de 90% na comparação entre dados modelados e dados medidos.
No período da tarde foram ministradas palestras com estudos de caso e empresas voltadas a projetos de engenharia. Os temas abordados foram “Tecnologia para Proteção Costeira” , “Aumento dos Níveis dos Oceanos – Consequências e Soluções”, “Estudos de Casos de Adaptação Climática para Áreas Portuárias”, “Fatores Indutores da Erosão Acelerada na Ponta da Praia e seus Possíveis Impactos nas Soluções de Engenharia” e “Planejamento e Licenciamento Ambiental na Prevenção de Efeitos Climáticos”.
Participaram do Seminário integrantes da Prodesan; Unisantos; USP; Vale S/A; Defesa Civil de São Vicente; OAB Santos; Câmara Municipal de Santos; Prefeitura de Santos; Unifesp; Sabesp; Defesa Civil de Praia Grande; Unisanta; Fundação Florestal; Codesp; Defesa Civil de Santos; Ibama Santos; Parque Tecnológico de Santos; APA Marinha Litoral Centro; Unimonte; empresas de engenharia; profissionais autônomos e estudantes universitários.
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